22/05/2013 - 12h01
Jovens em tratamento contra o vício em drogas estrelam musical em SP
NATALIA JULIO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando Shirlley C. tinha 9 anos, foi abusada sexualmente pelo próprio pai. Decidiu então viver na rua. Lá, envolveu-se com drogas.
Usou cola, cocaína, ecstasy e drogas injetáveis --só o crack não entrou na lista--, virou traficante, teve três overdoses, foi internada na antiga Febem --atual Fundação Casa-- e estuprada diversas vezes --em uma dessas ocasiões, engravidou.
A história tinha tudo para ter um final infeliz. Mas Shirlley, hoje com 26 anos, é uma das estrelas de um musical chamado "Streetlight", que conta a história de um rapaz que luta para escapar da brutalidade. Neste sábado (25) e domingo (26), o grupo se apresenta em São Paulo e depois parte para outras cinco cidades brasileiras: Belo Horizonte (MG), São Luís (MA), Aracaju (SE), Fortaleza (CE) e Rio de Janeiro (RJ).
Assim como ela, diversos jovens em recuperação da dependência química, escolhido em diferentes unidades terapêuticas, sobem ao palco no projeto Forte Sem Violência.
O projeto foi idealizado pelo pedagogo alemão Mathias Kaps e trazido ao Brasil pelo frei Hans Stapel, fundador da casa Fazenda da Esperança, onde Shirlley está há quatro anos (hoje, apenas como voluntária). "Quando [os jovens] decidem pela não dependência, tornam-se protagonistas de suas próprias vidas', afirma Stapel.
Shirlley é só elogios para a iniciativa. Sem usar drogas há três anos e vivendo com o filho que apenas visitava na época do vício, ela afirma que ter subido ao palco é algo gratificante.
"Para mim, veio como uma explosão para mostrar que eu sou capaz. Veio no momento certo. O sonho de ser mãe eu resgatei, o de ser uma pessoa sóbria também. Agora estou conseguindo resgatar o sonho de me envolver com arte, com música, com dança", diz.
André R., 28, também participa da apresentação, mas como cantor. Há nove meses sem usar cocaína, ele também tem um passado difícil. Perdeu o emprego por conta das drogas, roubou objetos de casa para vender e foi expulso pela família. Virou traficante na favela de Heliópolis (zona sul de São Paulo), e, após levar uma surra por conta das drogas, decidiu que precisava se internar.
Hoje, conta que o "coração bate forte" ao cantar e encenar. "Eu tocava em grupo de samba, mas sempre estava alucinado. Fazer isso sóbrio é importante para o meu crescimento", relata.
REDESCOBRINDO TALENTOS
Ao serem questionados sobre a melhor coisa do projeto, os jovens são unânimes: a chance de mostrar seus atributos para os demais. Em workshops, eles aprendem técnicas de dança, canto, percussão e teatro. Tudo para estarem preparados na hora do espetáculo.
"Quando vi todo aquele público aplaudindo, de pé, cantando com a gente... Eu não acreditava que eu seria capaz de fazer isso", diz Shirlley. "Tem tanta gente que estava nessa vida e que descobriu que tem talentos", concorda André.
Para o frei Hans, o projeto é uma nova oportunidade de vida para aqueles que lutam contra a dependência química. "Não podemos tachá-los, dizer que são bandidos e precisam ser presos ou até morrer. Precisamos dar uma chance para eles descobrirem os valores que têm."
A cerimônia de fechamento do projeto será no Rio de Janeiro em 27 de julho, durante a Jornada Mundial da Juventude, que terá a presença do Papa Francisco. A ex-dependente Dora A., 43, não esconde a animação. "Vou me apresentar para o Papa. Vou mostrar ao mundo algo que aprendi."
Streetlight - Ginásio Poliesportivo Mauro Pinheiro - r. Abílio Soares, 1300, Vila Mariana, zona sul, São Paulo, SP. Sáb. (25): 20h e dom. (26): 10h e 18h. Ingr.: R$ 30. Para mais informações e compra de ingressos, acesse o site oficial.
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